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Autismo e a Síndrome de Burnout: Parte I

  • Foto do escritor: Priscilla Nogueira Castro
    Priscilla Nogueira Castro
  • 6 de abr. de 2019
  • 7 min de leitura
 

Eu poderia iniciar aqui dizendo que você (Autista) não tem mais uma probabilidade em comorbidade para se preocupar. Mas, enfim, gosto de falar a verdade sobre questões de saúde sabe? Então, como te contar isso... Caríssimas Autistares, abaixo falo sobre uma Síndrome que precisei de 2 anos de sofrência, 8 profissionais da área de Saúde Mental e especializados em Autismo para chegarem ao diagnóstico. Desejo que minha história nunca seja semelhante à sua e que você nem passe perto dessa probabilidade, mas é meu dever, ao menos, te conscientizar dela!

Portanto, ajeite seu óculos, ajuste o filtro de luz de seu equipamento de leitura, estejas preparada para gastar 3 minutos nessa leitura, reuna forças para ler uma segunda parte desse artigo e Boa reflexão...




Visão pessoal de uma Universitária portadora de Síndrome de Burnout e Autismo
Síndrome de Burnout em Universitária Autista - Priscilla Nogueira


 

O que é o CID 10 Z73.0 ?


Primeiramente, porque iniciarmos com uma pergunta tão complicada? Justifico dizendo, que tenho uma amiga Autista, que depois de chegar ao pronto-socorro com uma dor gastrointestinal, que mais se parecia com uma apendicite, me mostrou o laudo de sua Psiquiatra constando esse nomezinho aí: CID 10 Z73.0. Bem, o que é o CID? O CID é o padrão de nomenclatura Internacional para as patologias e, segundo ele, existem números para as doenças, sendo que a numeração e letra que o sucede significam a doença do qual ele trata sobre.

O número "10 Z73.0" é o que simboliza o famoso: esgotamento. Portanto, ter essa numeração tipificada em seu laudo médico significa que você entrou em algum colapso físico ou mental.

A Síndrome de Burnout está dentro dessa numeração e nomenclatura, no entanto, ela atinge níveis de esgotamento diferenciados das outras patologias também contempladas como "esgotamento". Uma vez, que a Síndrome de Burnout pode apresentar esses dentre outros sintomas abaixo:

  • Esgotamento Físico e Mental: Se apercebe um esgotamento físico coadjuvante e esse esgotamento não é recuperado após um curto período de afastamento das atividades rotineiras, como 30 dias, por exemplo. Nota-se a necessidade de um tempo maior para reabilitação e em profissões e atividades laborativas de enorme desgaste, mas que a adaptação e inclusão de comportamentos dentro da profissão não é permitida, trata-se de estruturas de trabalho rígidas. A psiquiatra Ana Beatriz Silva cita, que até 60% dos professores que chegam em seu escritório, portadores da Síndrome de Burnout, não retornam às escolas/universidades. A depressão não é sintomatologia obrigatória e taxativa de ocorrência na Síndrome, existem mais de 50% de casos de Burnout em que a depressão não é diagnosticada, sendo que muitas vezes pode ser confundido o esgotamento físico e mental com depressão.

  • Caminhada irregular, fraquezas musculares, incapacidades físicas: Na subida de um morro, não só se desgasta e necessita de mais empenho físico como as demais pessoas, mas é obrigada a parar, assentar fazer dos muros o seu encosto, por várias vezes até chegada ao destino. Tais incapacidades podem advir de irregularidades cardíacas, hormonais, musculares ou respiratórias, dentre outras. A pessoa portadora de Bournout pode ter que se assentar no trajeto entre seu quarto e a cozinha de sua própria casa, por Exemplo. É um nível de cansaço, que já se instalou em desequilíbrios hormonais de longo-prazo, distúrbios no sono, miopatias proximais severas somados ao esgotamento mental e todas as possibilidades de acometimentos a mais.

  • Pré-desmaios, desmaios, convulsões, distúrbios orgânicos: Essa sintomatologia pode ter ocorrência ao longo do dia ou não, desde que constantes em curto espaço temporal. Além disso, as convulsões podem ser parciais simples ou complexas. Os distúrbios podem ser no nível de cortisol basal ou salivar, na Glándula Hipófise, Distúrbios/Fadiga na Glândula Adrenal e da Suprarrenal (que por sinal, regulam o nível de cortisol, de adrenalina e de ACTH).

  • Crise de pânico consecutivas ou constantes: quando se tem que confrontar a atividade ou objeto estressor, bem como outras sintomatologias advindas do stress desse confronto, como arritimias cardíacas, problemas gastrointestinais, Transtornos Alimentares. Uma vez, que pode ser desenvolvido um quadro de desnutrição/anorexia nervosa advindos de tais Trantornos na alimentação e nutrição. Mais de uma crise de pânico por dia e até mais de uma em apenas uma (1) hora.

  • Absenteísmo (ausência proposital e justificada): o portador inicia processos e mecanismos orgânicos de evitações do fator ou evento estressor, fugindo das atividades, obrigações para com esses eventos. Ou pode apresentar um presenteísmo forçado e desprovido de capacidades ou habilidades de estar presente. No último caso, a pessoa pode, mesmo em quadro de Burnout, forçar sua permanência no evento, fator, ambiente estressor, para cumprimento de horário, zelo por uma reputação, condições insalubres extremas de exercimento da atividade, que o impede de se aliviar da situação em ausências.

  • Sensação de desvalia, de ausência de reconhecimento: Geralmente, o portador de Burnout é um indivíduo que se dedica ao extremo em suas atividades a serem realizadas e quando os demais não enxergam esse desgaste em prol de uma causa, não reconhecem seu trabalho à altura do que ele merece em reconhecimento ou à altura do que o indivíduo julga merecer, aí temos uma das características mais simbólicas para ocorrência da Síndrome de Burnout: o arrependimento de ter dispendido tanto por nada ou quase nada.

  • Necessidade incomum por Glicose: a pessoa portadora da Síndrome pode necessitar organicamente de um número cada vez maior de Glicose, fato que a leva, facilmente, a exagerar no consumo de açúcares ou doces. O cérebro necessita de 30% de Glicose para seu bom funcionamento, um indivíduo com esgotamento físico-mentais necessitarão de um número maior de ingstão de Glicose em um curto espaço de tempo, uma vez que seu cérebro está com funcionamento precário e desregulado.


 

Quem é a Burnout?


A Síndrome de Burnout vêm do nome Inglês: Burn out, isto é, queimar-se por completo. Foi descoberta e escrita sobre pela primeira vez na história por um psicanalista alemão, que também era portador da Síndrome. Isso mesmo! o psicanalista Herbert Freudenberger (1926-1999), notou a partir de 1974, que tinha sintomatologias que não eram explicadas por outras patologias físico-mentais, tão logo se viu escrevendo sobre ele mesmo e fazendo surgir uma nova nomenclatura CID.

Vamos lá, quem foi Herbert?

  • Herbert trabalhava 12 horas ao dia

  • chegava a atender 10 dependentes químcos pela noite

  • vítima dessa Síndrome, ainda inonimada, sofreu esgotamento físico-mental e foi para a cama


Segunda a Neurologista Dalva Poyares, em entrevista à Revista Saúde, o ato de dormir pouco é um dos critérios satisfatórios para se iniciar um Bornout. Não sei se já notaram, mas quando dormimos menos do que nosso orgânico necessita, no outro dia necessitamos dormir a mais para reposição corporal. Isso é o que confirma a vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina do Sono (Dalva):

O sono é como uma conta-corrente. Se você gasta mais do que ganha, seu saldo fica devedor

Ainda não temos uma estatística que nos diga qual a porcentagem de pessoas com Burnout no Brasil, mas de acordo com uma pesquisa do Stress Management Association (Isma-BR), estão calculando cerca de 32% do trabalhadores no país. Nesse ranking estão inseridos 8 países e seus históricos, desses, os brasileiros ganham dos chineses e americanos em ocorrência da Síndrome, no entanto perde dos japoneses.

Quero frisar aqui a palavra "Trabalhadores", uma vez que, o diagnóstico pode ocorrer em outros tipos de pessoas com atividades que não sejam laborativas e/ou profissionais, como exemplo de ocorrência temos:

  • Pais extremamente dedicados aos filhos: que tenham exagerada e extrema dedicação com seus filhos. Sejam eles, pais de primeira viagem cobrados culturalmente pelo zelo no cuidado de seus filhos e conduta ilibada. Sejam eles, pais de crianças especiais, que exigem atenção redobrada e grande dispêndio físico-emocional de forma obrigatória.

  • Cuidadores com laço afetivo: com ligação afetiva com seus dependentes em cuidado físico ou emocional em que tais dependentes exijam comportamentos de cuidados especiais, constantes e redobrados. Podem ser eles, filhos de seus dependentes ou demais parentes desses.

  • Acadêmicos: alunos de ensino fundamental e/ou universitário, acadêmicos de outras perfomances. Em que tais alunos estejam em situações de extrema cobrança, fragilidades causadas pelas instituições, da qual fazem parte ou até mesmo por seus familiares (ou correlatos), a fim de que tenham um ótimo rendimento acadêmico para obtenção de uma aceitação ou padrão estipulado. Importante é, que por razões adicionais ou puramente por exigências institucionais, o aluno não esteja apresentando as sintomatologias acima citadas.

  • Pastores e Padres (ou correlatos): o Burnout nessa classe está sendo investigado recentemente pela Psicóloga Luciana de Almeida Campos, após os atos extremos de suicídio de pastores e padres respeitados em suas atividades religiosas, em que 3 padres se suicidam em 15 dias. Casos como o do Pastor 'Machado' dirigente, presbítero e ligado à Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Piauí, que se suicidou algumas horas após ter realizado uma Ceia e apresentando quadro de Depressão. O pastor possuía 30 anos de igrejado.

A depressão é como uma dependência química grave, a pessoa quer sair dela mas não consegue, perde o livre arbítrio. Precisamos urgentemente ajudar pastores e líderes que, muitas vezes, ou quase que na totalidade das vezes, não tem como desabafar (Psicóloga Marisa Lobo)
 

Autismo e a Burnout


Daí você me indaga: Aonde entra o Autista nisso? e com qual probabilidade ele entra? Bem, não encontrei artigos respeitosos correlacionando o Autismo e a Burnout. Mas, vou falar de minha experiência em específico adicionando alguns vínculos científicos, já que os relatos são escassos.

Chamo vocês leitoras a ligarem os pontos por aqui:

  • Inflamação neuronal no Autismo: está claro cientificamente, que os neurônios coligados à relação de Stress em nós seres-humanos estão em condição desfavorecida no cérebro Autista, pois já estão inflamados condicionalmente. Desta forma, as relações e cenários de Stress, no Autista, não possuem muita dificuldade para afetá-lo, pois a região mais afetada pelo Stress nos seres-humanos já se encontra inflamada no Autista, mesmo sem a exposição longânima ao Stress. Sendo assim, imagine você a probabilidade de que um Autista, submetido aos cenários citados acima, desenvolva a Síndrome de Burnout e de forma mais fácil e mais rápida quando presentes em tais cenários ou relações.

  • Dificuldade na gerência do Stress: o Autista possui deficiências na parte límbica do Cérebro humano, mais especificamente, na região da Amígdala. Ali está parte da região neuronal que administra as relações estressoras e que estão corrompidas, inflamadas.

  • Stress é uma inflamação neuronal, mas... pode se tornar algo a mais, Infelizmente, nossos neurônios também podem ser mortos, quando existem as famosas "podas neurais" ou situações de intenso stress. Tal morte levaria às condições de Burnout em que as capacidades de gerência do Stress são fortemente inabilitadas. De uma forma bem generalizada e pouco específica, o Autista também teria mais facilidade para tais 'mortes', pelo fator inflamação excessiva e não, estritamente, pela situação de "poda neural"

O Autismo está aí, muito mais próximo de uma Bornout, que qualquer outro indivíduo fora do Espectro Autista, assim como outros indivíduos com fragilidades neuronais também o estejam!


Teremos a parte II desse artigo, aguarde por mais!! Grata...

 


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